quinta-feira, 23 de abril de 2009

Esvaziando a caixa

Palavras & Arranjos VII

Por culpa de uma das muitas teorias poundianas (inclusive, o Gabriel já escreveu sobre um dos livros do E.P.), tenho convivido com um poeminha que insiste em não sair da cabeça. Vem e vai com uma facilidade incrível. Por muitas vezes nesses dias, me pego recitando o troço - sei de cabeça apenas a primeira e a última estrofe. Ele me martela a cuca. Mas minha sorte reside na maestria do tal poema. Fora isso estaria perdido, seria como estar a mercê de um setanejão brabo, daqueles de cowboys contemporâneos, de gosto pra lá de duvidoso.

A teoria que falo se refere à necessidade básica, segundo Pound, da rima e do ritmo na poesia. Coisa nada fácil de alcançar num nível avançado, claro. Prova disso é o que está aqui embaixo: essa coisa linda me castiga - castigo dos mais prazerosos, esclareço -, me sufoca os pensamentos quando menos espero.

Eis agora a covardia jobiniana ao piano e os cabelos brancos do poetinha ao microfone. E digo: este é o momento em que esvazio a caixa pensante. Salve! Que me venham mais coisas desse nível ao pensamento.

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Eu sei, eu sei. Ouvi-los seria, digamos, perfeito. Youtube está aí para isso.



Mudando de assunto e ao mesmo tempo falando da mesmíssima coisa...
Tenho em mãos um livro de poemas de Fernando Pessoa. Será? Acho que sim. É, devo ter arrumado sarna para me coçar, eu sei. Coisas à cabeça, troços que invadem o pensamento, passeiam por lá até que esvaziemos a cuca a fim de arrumar espaço para mais troços e coisas relevantes para colocar em seu lugar. Sigamos a vida lendo. Eis a dica minha para os loucos que me lêem, o que já seria uma baita contradição. Vão ler o que vale a pena, ora bolas!

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