quarta-feira, 15 de abril de 2009

A relutância em admitir um ex-analfabeto literário na turminha intelectual

Texto de Carlos Simplício

Nunca fui erudito. Nunca fui culto. Nunca fui estudioso. Nunca fui um leitor assíduo. Nunca tive problemas de vista pelo excesso de leitura. Nunca tive pilhas e pilhas de livros na mesa. Nunca fui de ler até dormir. Nunca.

Já li, claro. Também já estudei, inevitável. Até acharia legal usar óculos. Mas não, nunca fui erudito. Porém, ei de mudar. Pretendo, pois, deixar o rótulo de analfabeto intelectual para trás. Mesmo não sendo culto desde sempre, quero novidades.

(É exatamente aí que começa o drama.)

"Ah, esse cara é petulante. Quem ele pensa que é? Começou a ler agora e acha que já é da nossa laia?" Comum ouvir isso, ou ver nos semblantes dos cultos perguntas como essas serem forjadas, por mais que raramente ditas. Há preconceito racial, de classe social, são muitos. Pois, sofro, sofri e vou continuar sofrendo com o preconceito contra ex-analfabetos litarários. Sofro com o desdém alheio. Nunca fui erudito, nunca fui culto nem estudioso. Mas por que não posso ansear por conhecimento no meio do caminho? Por que não me aceitam na turminha intelectual?

Essa coisa de reter o conhecimento parece mania de professor de matemática do colegial que despreza os que não sabem, se volta apenas para os que entendem previamente o que é dito. E os que não pescam de prima e querem entender, nem que lhes tome mais tempo, como ficam? Não ficam, simples. Ficam sem saber, desestimulados.

Nunca fui culto nem um leitor comedor de livros. Mas... posso mudar de ideia! E daí? Só por que não nasci com um livro na mão, não posso preferir tomá-los como amigos de infância?

"Nossa, ele leu Nietzsche com quatorze anos e esse outro menino de apenas doze verões já sabe a teoria de Marx há um ano!" Se eu ler e me interar no assunto aos vinte, sou um merdinha? Eles são mais fodas do que eu simplesmete por serem precoces? Não quero status de genial. Não sou gênio. Nunca fui erudito nem culto, genial então...

Não gosto, me incomoda saber que mudar de caminho - da ignorância à realidade - é difícil, não pelo ato em si, mas pela relutância daqueles pirracentos da turminha intelectual.

Enfim, esse ex-analfabeto literário pede: por favor, me aceitem! Antes que eu crie a minha própria gangue, me revolte, ateie fogo em colchões, faça barricadas nas bibliotecas e revolucione o mundo intelectual, fazendo com que todos reverenciem os livros e não quem os lêem.
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Foto extraída do blog Poesia Atual.


Palavras & Arranjos V

** Boa, Carlinhos! Depois desse pequenino tapa na face dos arrogantes quatro olhos, desçamos a "Ladeira" com a Orquestra Contemporânea de Olinda. Atenção ao sutaquinhu (aqui, leia-se com um pernambucanês bem acentuado) do camarada do vocal e também ao transe e às caras e bocas do percussionista - bem à frente do palco, o que não é comum. Ao vivo esse som é melhor ainda. Vi e gostei.



A saideira: "Canto da sereia". (Eles mandaram essa duas vezes no show que fui. Boa, muito boa.)



Dica para quem está em meio ao concreto: Studio SP. Nos próximos dois sábados, eles vão mandar ver por lá.

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